Por que amamos tênis "feios"?

A palavra "feio" pode ser complicada e subjetiva quando falamos de gostos pessoais, como naquela frase: "A beleza está nos olhos de quem vê", etc. Atualmente, vivemos uma relação de amor com os tênis que, há alguns anos, consideraríamos feios. E você sabe de qual tênis estamos falando, aqueles que desafiam o tradicional; com um design considerado bom, eles ignoram a abordagem comum. Desde a Big Red Boots da MSCHF (botinha do Astroboy) até o retorno das UGGs à atualidade, esse tipo de tênis, que chama a atenção não pelo design bonito ou minimalista, está em alta há muito mais tempo do que você imagina.

Contrariando o minimalismo

Observando as últimas tendências no mundo dos tênis, é possível ver que a trajetória dos "ugly shoes" é consistente. Com a introdução de tênis como o Ozweego do Raf Simons, que contrariam o minimalismo, fica claro que os tênis feios vieram para ficar. Depois de vários anos, as marcas lançaram seus próprios tênis "chunky", como o retorno do New Balance 990, talvez o grande precursor desse tipo de tênis. A Balenciaga lançou o Triple S em 2016, um tênis extremamente audacioso em termos de design, tornando-se objeto de desejo para alguns e motivo de zombaria para outros. Isso fez com que outras marcas de luxo também lançassem seus próprios modelos, como o Gucci Rhyton, Prada Cloudbust e a Fendi com o FF Trainer, todos buscando se tornar o "ugly shoe" mais destacado na época.

Acessibilidade

Como um efeito dominó, a mudança das marcas em direção aos tênis minimalistas foi sentida, e várias opções acessíveis surgiram, mudando o mercado. Exemplos incluem o Nike Air Monarch e o controverso Fila Disruptor, trazendo acessibilidade para aqueles que não queriam gastar milhares de reais, mas ainda assim permanecer na moda. Silhuetas antigas, como o New Balance 2002R, também tiveram várias cores lançadas ao longo dos anos, fazendo com que as marcas recorressem a silhuetas antigas e esquecidas para fazer parte desse movimento chamado de 'ugly shoes'.

Busca por conforto

Atualmente, além dos tênis, os Foam Runners da linha Yeezy da Adidas, em parceria com Kanye West, lançados em 2020, são outro exemplo. É um tênis, ou croc (como preferir chamar), feito de espuma EVA com um design totalmente único e orgânico. O lançamento desses tênis coincidiu com os lockdowns que enfrentávamos na época da pandemia, onde houve um ressurgimento de tênis que antes eram desprezados e que traziam todos os aspectos de conforto que as pessoas procuravam enquanto passavam todo o tempo em casa, os Crocs.

Adidas Yeezy Foam Runner "Onyx"

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Mesmo sendo alvo de piadas durante os últimos anos, os Crocs estão colaborando com marcas extremamente admiradas, como JJJJound, Vivienne Westwood e Palace, além de colaborar com artistas como Post Malone e Diplo, e o mais notável de todos, sem dúvida, o artista Salehe Bembury. Os Crocs se tornaram descolados novamente.

Nos anos mais recentes, também houve uma tendência crescente focada na funcionalidade, apelidada de Gorpcore. Isso traz materiais impermeáveis, bolsos e tênis feitos para longas caminhadas, e isso custa um bom design. Tênis como os Salomon XT-6 e Nike Terra Humara ficaram muito populares de 2021 até agora. Isso só comprova que os tênis feios estão por toda parte, mas por que gostamos deles? A resposta está no ciclo de tendências.

Durante muito tempo, os tênis comuns eram minimalistas, de cano baixo e, na maioria das vezes, brancos. Extremamente populares nos anos 2000 e 2010, foi quando a Balenciaga desafiou isso e trouxe o oposto do que estávamos acostumados. Há também uma certa nostalgia envolvida nesse tipo de tênis. Muitos deles eram populares nas décadas de 1980 e 1990, que são as décadas em que muitos designers de marcas de luxo cresceram e tiveram inspirações ao decidir para onde levar suas marcas. Tudo isso somado a uma audiência que não estava presente na época em que tênis como o New Balance 990 ficou popular, e há uma combinação de novidade e estilo retrô.

Fica claro que o impacto das quarentenas na pandemia teve uma influência enorme na popularidade desses tênis. Enquanto o Triple S estava em alta antes da pandemia, o fato de que não podíamos sair de casa fez com que fôssemos direcionados em busca de conforto. Por isso, tênis como Crocs, Birkenstock e Foam Runners substituíram marcas como Nike no dia a dia de muitos, e isso ainda se mantém, quase quatro anos depois.

Podemos estar presenciando uma leve mudança e a volta do minimalismo? Olhando para tênis como o Adidas Samba, isso traz um bom argumento para o "sim". No entanto, ainda vemos bastante estilos ousados que alcançam um sucesso enorme, até mesmo na silhueta do Adidas Samba, com a colaboração em parceria com a designer britânica Grace Wales Bonner, que deu um toque prateado ao tênis de futsal e, mais recentemente, trouxe um toque de leopardo para a silhueta das três listras.

Adidas Samba x Wales Bonner "Pony Leo" Animal Print

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É mais provável que estamos a ter o retorno de algo mais refinado e com um impacto menor do que ocorreu em 2016. Mas quem sabe, não há espaço tanto para um tênis minimalista de cano baixo quanto para um par grande, "feio" e marcante no seu guarda-roupa? É o que esperamos.